Manter os talentos adquiridos ou formados na empresa é até mais importante que conquistá-los, não importa o nível do cargo. As pessoas têm de estar interessadas e produtivas, porque é isso que vai garantir que o investimento na contratação e na formação não seja jogado fora com uma transferência precoce. Ainda mais em um mercado competitivo e movimentado como o da tecnologia.

Onboarding

A integração de um novo colaborador à empresa é determinante:  é a porta de entrada da nova pessoa na companhia, a primeira impressão. Estudos mostram que esse período inicial da contratação influi diretamente na permanência da pessoa, pois até 20% das novas contratações vão embora nos primeiros 45 dias (ver por exemplo o artigo “To retain new hires, spend more onboarding them”, de Ron Carucci, publicado na Harvard Business Review).

O processo de recepção serve para apresentar ao recém-chegado:

  • Ferramentas
  • Processos
  • Sistemas
  • Cultura

Há muito mais em jogo do que presentear com um brinde bonito, enfileirar uma palestra atrás da outra e fazer a pessoa se sentir acolhida e benvinda. Tudo isso é necessário, ainda mais quando o sistema de trabalho é remoto e há uma distância física a ser superada. As lideranças devem se esforçar para ter um contato direto com os participantes, mostrar-se acessíveis.

O primeiro contato é muito importante para criar um vínculo e uma relação inicial com todas as pessoas que entram no time.

O processo de onboarding em uma empresa de tecnologia só está completo quando as pessoas passam a se sentir produtivas. 

Revisão de código como método de ensino

Além de treinamentos e da semana de recepção, o ideal é que o novo contratado tenha uma pessoa dedicada a mentorá-lo, e que seja imediatamente envolvido em um projeto inicial.

Um projeto inicial pode ter as seguintes características:

  • Duração de poucas semanas
  • Abrangência
  • Exposição do contratado à metodologia de desenvolvimento e revisão de código, e aos  sistemas, ferramentas e bibliotecas 

Nessa fase inicial, as pessoas do time da nova contratada vão prestar bastante atenção no código que ela está escrevendo. A revisão será feita de maneira mais assertiva, para ensiná-la. 

Com as ferramentas de engenharia, os colaboradores escrevem um código, testam, submetem o código e o teste à revisão e outras pessoas veem e comentam. É um processo iterativo que se mantém até que o código fique bom e possa entrar em produção. Esse processo de validação e revisão de código funciona na prática como um processo de aprendizado e é muito adotado nas big techs internacionais.

Em empresas menores e no Brasil, a cultura da revisão de código pode ainda não ser tão bem disseminada. Tem gente que acha, principalmente profissionais mais sêniores, que a preocupação em educar as pessoas que chegam à empresa não faz parte de suas atribuições. 

Nas big techs, porém, é frequente que líderes passem até 60% de seu tempo de trabalho fazendo revisão de código de pessoas júniores, copiando todos os desenvolvedores em todas as revisões. Os comentários detalhados dessas revisões são uma ótima ferramenta de aprendizado.

Além de treinar a força de trabalho, ao revisar o código líderes estão:

  • Mostrando áreas que exigem cuidados especiais
  • Ensinando a escrever testes
  • Determinando a arquitetura do sistema
  • Comunicando, por intermédio de código, o que querem que seja feito tecnicamente na organização.

Quando se usa a revisão de código como uma oportunidade de ensinar, o patamar da equipe se eleva.

Marcus Fontoura
Sobre o autor

Marcus Fontoura

Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.