O número de camadas na estrutura organizacional precisa ser levado em conta no ajuste da equipe de uma empresa de tecnologia. Organizações com muitas camadas podem sofrer com problemas de comunicação, porque as diretrizes têm de passar por um longo percurso.
Reduzir as camadas hierárquicas tende a melhorar a comunicação e tornar a empresa mais ágil, mas a consequência automática de fazer isso sem reduzir o número de colaboradores é aumentar o span of control, criando equipes maiores, o que traz outros prejuízos. A determinação do número de camadas e do número médio de funcionários por gestor estabelece, portanto, a capacidade de gestão da empresa.
Não é uma conta simples de fazer. Existem variações em relação à senioridade e ao número de camadas hierárquicas dependendo da atividade e da posição estratégica. Não é algo que possa ser imposto à empresa de maneira uniforme. Mas é positivo controlar esses parâmetros com métricas globais e métricas por área, para que as medidas sejam tomadas com base em dados, e não em percepções subjetivas.
A área de pesquisa de tecnologia, que se concentra em projetos de médio e longo prazo, mais focados na inovação, por exemplo, precisa de profissionais muito sêniores. Já áreas como atendimento ao cliente e sistemas internos costumam ter proporção maior de colaboradores iniciantes, equipes maiores e líderes não tão sêniores, embora nem por isso sejam desimportantes.
É como construir uma casa
Uma metáfora para representar a proximidade da supervisão é a construção de uma casa. Se por um lado a gestão precisa acompanhar muito de perto a colocação dos alicerces e a construção do encanamento, por outro o serviço de colocação dos azulejos pode ser supervisionado de outra forma, porque em caso de necessidade será muito mais fácil recolocar os azulejos do que trocar o encanamento ou corrigir uma fundação malfeita.
Uma vez que se defina que o span of control médio de uma empresa é 10, por exemplo, e que não se quer mais do que cinco camadas de hierarquia, o limite máximo de funcionários será de 11.111 pessoas, sendo que deles 1.111 serão gestores. Sem monitoramento, é bem possível que a certa altura a liderança se dê conta de que a companhia na verdade está com 20.000 colaboradores e apenas 500 gestores. Ou que, pelo contrário, o número de gestores está inflado em 5.000 para um contingente total de 15.000 funcionários. São vários tipos de desequilíbrio que devem ser evitados ou, quando detectados, corrigidos.
Os sinais de que a organização está desbalanceada aparecem concretamente nas métricas de acompanhamento dos dados de pessoal de tecnologia, mas também podem ser percebidos de outras maneiras:
- Funcionários em burnout
- Aumento da rotatividade
- Redução de produção de código
- Maior frequência de incidentes
- Tempo maior para mitigar incidentes
O conjunto de métricas DORA (DevOps Research and Assessment) pode ajudar a detectar esse desbalanceamento.
O olhar intencional sobre a organização de tecnologia busca evitar esse tipo de desequilíbrio e chamar atenção para ele quando a situação se encontra desorganizada.

Marcus Fontoura
Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.