Ter espaço para que os profissionais possam exercer sua criatividade dentro da empresa é um dos pontos que mais proporcionam a inovação. Para isso, gestores precisam considerar que tipo de cultura corporativa para experimentos as equipes devem abraçar, ainda mais quando não há um departamento separado dedicado à pesquisa. As pessoas podem então testar o que bem entenderem? 

De cara a resposta é não. Toda organização tem limites de atuação, seja por perfil do negócio, regulamentações de governo, teto de gastos ou vocação regional. Outra preocupação de qualquer empresa de tecnologia é com a estabilidade dos sistemas, incluindo segurança cibernética, desempenho e disponibilidade das aplicações. Por exemplo, antes de uma funcionalidade ser posta em produção, é papel do time de segurança cibernética validar que não há qualquer brecha que deixe a companhia vulnerável.

Existe ainda a consideração de que, por menor que uma alteração seja, ela pode acarretar instabilidades. Para minimizar esse risco, é preciso criar salvaguardas, alguma estrutura de validação técnica, que pode ser tanto um processo de testes automáticos como a aprovação de um time específico. Organizações de maior porte contam com site reliabilty engineers   (SRE), que são profissionais dedicados a analisar o impacto operacional de uma mudança sem juízo de valor, somente pela ótica da estabilidade dos sistemas. 

A liberdade de criação dos engenheiros depende de uma base de segurança que pode se sustentar a partir de processos, de ferramentas técnicas ou de ambos, mas ela precisa existir para controlar o risco do negócio. Por outro lado, mesmo quando existe uma rigidez regulatória ou há restrições de produto (algo como todo cartão de crédito agora tem que conter um chip), ainda assim dá para exercer a criatividade na engenharia, porque sempre há espaço para o líder de tecnologia organizar sua equipe de forma a permitir inovação e influência nas definições de produto.

Profissionais de engenharia e de tecnologia que entendem bem sobre o produto em que trabalham precisam poder fazer testes e MVPs para validarem novas ideias e terem insights. 

Muita gente pode nem entender o que é criatividade de engenharia, mas ela se expressa em:

  • Como se opera um sistema
  • Como se coloca algo em produção
  • Como se calcula e equilibra o custo de executar um sistema. 

Várias das inovações de engenharia são completamente independentes das inovações de produto, e a forma que funciona melhor é quando elas se juntam para impulsionar a qualidade de um serviço. Fazer análise de fraudes em tempo real, por exemplo, é uma inovação de engenharia que pode habilitar inovações de produto – por exemplo crédito instantâneo.

Mesmo quando existe uma rigidez regulatória ou há restrições de produto, ainda assim dá para exercer a criatividade na engenharia, porque sempre há espaço para o líder de tecnologia organizar sua equipe de forma a permitir inovação e influência nas definições de produto.

Marcus Fontoura
Sobre o autor

Marcus Fontoura

Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.