O investimento na área de tecnologia de uma empresa tem sempre que se pagar. Grande parte desse investimento acaba sendo em pessoal, porque se trata de uma área com remunerações mais altas. Em compensação, o potencial de geração de valor dos profissionais é também muito alto, então boa parte do trabalho de um líder de tecnologia é escolher seu time a dedo. 

A partir da formação de uma equipe o mais enxuta e competente possível, é preciso analisar o que vale a pena designar para ser desenvolvido e tocado dentro da empresa e o que deve ser contratado fora. Para isso, o gestor de tecnologia tem que estudar e determinar:

Esse tipo de decisão inclui considerar custos para um cenário e outro, custos de fornecedores e custos dentro da equipe, já que, se um projeto importante é executado fora da companhia, ele ainda assim terá que ser acompanhado por uma ou mais pessoas de tecnologia e terá que, de alguma forma, se integrar ao sistema da empresa.  

É fundamental contar o mais cedo possível com um profissional de tecnologia sênior para fazer essas avaliações e mapeamento. Um gestor de tecnologia que tenha protagonismo nas fases iniciais de uma empresa consegue planejar todos os processos, tanto do ponto de vista do desenvolvimento e implementação de sistemas quanto em relação à construção da equipe e definição dos processos de gestão

Já um gestor de tecnologia contratado por uma empresa que cresceu de maneira desorganizada fica com o encargo mais trabalhoso de rever todos os processos e, na maioria das situações, a própria configuração da equipe. Terá que lidar com questões como: 

  • O investimento em tecnologia se paga? 
  • As pessoas estão na função correta? 
  • Existe uma proporção de cargos sênior e júnior
  • As equipes trabalham em projetos que fazem sentido para a missão da empresa? 
  • Há redundâncias de funções nos diferentes departamentos? 
  • Há departamentos inchados ou com falta de pessoal?
  • A tecnologia trabalha para diminuir o risco de impasses técnicos nos anos à frente? 

Idealmente, o líder de tecnologia deve conseguir demonstrar de maneira clara para o CFO (Chief Financial Officer) e o CEO (Chief Executive Officer) que, para cada real investido na equipe de tecnologia da empresa, há um retorno maior ao investimento inicial. Por exemplo, analisando a diferença entre o custo de manter e operar um sistema feito internamente e uma alternativa viável provida por terceiros. Muitas vezes a diferença é de milhões de reais anuais, principalmente com escala. 

Além disso, qualquer melhoria, por menor que seja, que uma equipe de tecnologia execute nos sistemas de uma empresa que está em processo de escalar seus processos pode gerar valor para o negócio. Para áreas que são estratégicas para a empresa, desenvolver a tecnologia “em casa” gera ainda vantagens, como o maior controle sobre as ferramentas, a customização da tecnologia às reais necessidades da empresa e a possibilidade de inovação.

É relevante que exista certa “gordura” de pessoal em um time de tecnologia, para que se possa ter margem para fracassar, tentar de novo, experimentar e encontrar soluções realmente inovadoras, que sempre devem estar no coração de uma empresa de tecnologia. Só não erra quem trabalha em projetos óbvios o tempo todo, portanto erros têm que fazer parte do cotidiano da tecnologia, assim como muitos experimentos para se chegar a um ganho incremental – considerando inclusive que, um ganho de até 0,5% de eficiência, em geral pode representar quantias enormes de dinheiro em organizações de grande porte.

Caso não haja verba para essa “gordura” em um momento inicial da empresa, ela pode ser criada por ganhos de eficiência na área de tecnologia – por exemplo tornando desenvolvedores mais produtivos e diminuindo os débitos técnicos, a fim de reinvestir esse ganho de produtividade. Mas é preciso ter atenção também à rapidez do crescimento do time de tecnologia, porque, quanto maior for, maior será a complexidade de gestão.

Só não erra quem trabalha em projetos óbvios o tempo todo, portanto erros têm que fazer parte do cotidiano da tecnologia, assim como muitos experimentos para se chegar a um ganho incremental.

Marcus Fontoura
Sobre o autor

Marcus Fontoura

Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.