A gestão de pessoas deveria ser vista como uma maratona, com o foco no futuro, por mais sênior que seja um colaborador. Um comportamento que vem se disseminando no ramo da tecnologia, porém, é o de adotar remunerações muito agressivas, que variam ano a ano. 

Se um profissional atinge metas e tem uma boa avaliação de desempenho naqueles 12 meses, recebe um bônus gigante em comparação com o salário. Em compensação, se não cumpre os requisitos, fica sem nada ou é imediatamente demitido. 

É como se fosse uma corrida de 100 metros rasos, tanto para a empresa quanto para o funcionário. Essa prática gera instabilidade e prejudica a retenção, pois os colaboradores bem avaliados buscam no mercado a maior chance de bônus, e os mal avaliados deixam a empresa talvez sem terem a chance de experimentar posições e funções onde se encaixariam melhor. 

Mesmo pessoas brilhantes passam por altos e baixos na vida profissional. Além de tudo, uma empresa precisa ter flexibilidade para lidar com fatores pessoais que afetam seus colaboradores, e que são inevitáveis. 

O comportamento de colaboradores de constantemente buscar novas oportunidades para maximizar o ganho de curto prazo acaba interferindo no aprendizado e limitando-o. Só uma gestão de pessoas com foco no futuro, pensando longe, é que permite que bons profissionais permaneçam em equipes por longos e construtivos períodos. 

Isso não quer dizer que o profissional não possa prospectar o mercado. Essas incursões podem até ser benéficas para a empresa atual, pois ajuda o colaborador a entender se está feliz ou não onde está, e ter uma ideia mais realista do clima e das condições de trabalho em outras empresas.

Saída de profissionais: como a empresa deve agir

Quando uma pessoa decide mesmo sair da empresa, o papel dos gestores é ajudar nessa transferência. É necessário olhar não só com os olhos da organização – fazendo antes, claro, tudo o que estiver ao alcance para reter a pessoa se houver uma alternativa –, mas também com os olhos da própria pessoa, para compreender o que ela busca para seu desenvolvimento pessoal. 

O que justifica essa postura “compreensiva” não é benevolência. Agir dessa maneira com quem deixa a empresa fortalece o relacionamento com o profissional, que vai continuar se desenvolvendo em outras áreas. Pode acabar indo para uma outra empresa com a qual haja relações comerciais ou projetos conjuntos, e pode até daqui a alguns anos voltar para a organização.

O profissional pode também se transformar em mentor de outros talentos e indicá-los no futuro para sua empresa de origem. E pode até continuar mentorando colaboradores – claro que sem falar de projetos estratégicos ou confidenciais.

O hábito de mentorar e de ser mentorado está intimamente ligado à cultura do aprendizado, que é intelectualmente estimulante e favorece o surgimento de ideias e soluções técnicas que farão a diferença nos resultados.

Marcus Fontoura
Sobre o autor

Marcus Fontoura

Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.