A psicóloga e autora norte-americana Carol S. Dweck defende no livro Mindset: A nova psicologia do sucesso (Objetiva, 2017) a mentalidade de crescimento, segundo a qual a inteligência e o talento seriam frutos, em boa parte, do trabalho e da perseverança, e os erros, oportunidades para aprender e crescer. Falhas, portanto, não são deméritos que precisam ser evitados a qualquer preço – pelo contrário, são chances de se desenvolver.
O conceito de Carol S. Dweck embasou a transformação de cultura na Microsoft, encabeçada pelo CEO Satya Nadella a partir de 2014. O executivo acredita que líderes devem expor seu lado vulnerável – começando por dar ele mesmo o exemplo – e que a empresa deve encarar erros como um instrumento de melhora, não um obstáculo, porque sempre é possível se aprimorar.
Satya Nadella costuma dizer que vê três características essenciais para líderes:
- Conseguir vislumbrar a saída de situações complexas com clareza e descrever em poucas palavras o que é realmente essencial e o que precisa ser feito.
- Ter a capacidade de gerar uma energia boa, no sentido de extrair da equipe o potencial que ela tem para produzir.
- Entregar resultados e fazer as coisas acontecerem, promovendo inovações, equilibrando projetos de curto e longo prazo e sendo inspiradores.
Um líder não tem como ser bom em tudo, especialmente porque muitas vezes é envolvido em áreas de decisão bastante distintas daquelas em que costuma ter mais experiência técnica e familiaridade de atuação. A mentalidade de crescimento está em reconhecer pontos fracos, saber em que características é possível melhorar, em que áreas é mais prudente pedir ajuda e formar pessoas e times ao seu redor que complementem capacidades e instiguem o aperfeiçoamento coletivo.
Bons líderes conseguem compensar suas deficiências delegando tarefas e mantendo a autocrítica. Quando a liderança tem consciência sobre as próprias limitações, seja de conhecimentos técnicos (hard skills) ou de atributos interpessoais (soft skills), isso abre caminho para a formação de uma equipe próxima e de confiança que ajude a compensá-las. Ainda mais em tecnologia, ninguém terá pleno conhecimento de áreas específicas, e líderes precisam do apoio de especialistas para comandar projetos.

Marcus Fontoura
Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.