Assim como para qualquer outro profissional, o líder de tecnologia precisa compreender qual é sua missão na empresa e qual é a missão do seu time, além de ter clareza de como ela se conecta à missão das outras equipes e à da companhia. Esse entendimento contribui para a satisfação profissional, porque o valor do trabalho fica mais evidente para todas as partes.

Um exercício útil, para qualquer profissional de tecnologia, é tentar explicar para uma pessoa leiga de fora da companhia qual é seu trabalho no dia a dia. É frequente que um funcionário entre na empresa, comece a cumprir as tarefas e a programar sem ter noção do contexto mais amplo do que faz e como aquilo tem ligação com o todo da companhia. Ter uma visão geral ajuda a criar engajamento e leva as pessoas a trabalhar de modo alinhado com os objetivos da companhia, por exemplo:

“Você está feliz com o que está fazendo? Como imagina expandir sua carreira? Como pode melhorar?”. Essas são algumas das perguntas que um líder pode fazer para mentorar as pessoas e ajudá-las a aumentar a satisfação com o trabalho. Subvertendo a famosa frase de John F. Kennedy, não se trata de perguntar o que o empregado pode fazer pela empresa, mas o que a empresa pode fazer por ele. E a empresa não fará por benevolência, já que o beneficiado final será a companhia, que ganhará quanto maior for a produtividade. 

Um colaborador que sente que está sendo sugado pela empresa, sem receber nada em troca, assim que tiver uma oportunidade vira as costas e vai embora. Boas lideranças fazem todo o esforço possível para que as pessoas permaneçam no longo prazo. Funcionários que conseguem se desenvolver são funcionários melhores por mais tempo.

Quando uma liderança chega a uma empresa e vê a equipe tentando ganhar corridas como se todo e qualquer projeto fosse um sprint de 100 metros, ela pode, em primeiro lugar, pedir (e demonstrar) tranquilidade, e em seguida questionar: não seria mais produtivo encarar o trabalho como uma sequência de maratonas? Dessa forma, a mentalidade passa a ser mais voltada a quais plataformas podem ser montadas para que as corridas sejam mais eficientes e menos cansativas de modo geral. 

Obviamente que esse é um processo gradual e as coisas não mudam de uma hora para a outra. Conforme se desacelara um time, trazendo profissionais mais sêniores, focando nas plataformas e nos componentes reutilizáveis, em qualidade, em testes, em processos, a expectativa é que, depois de algum tempo, não seja mais nem possível adotar aquele comportamento da corrida desenfreada constante.

A missão da liderança é conter a ansiedade de resultados imediatistas, mostrar às pessoas que elas precisam esperar a construção de determinada plataforma para seguir em frente com um projeto estruturante e difundir a mentalidade da transformação intencional, com dependências planejadas e um pensamento de longo prazo.

Marcus Fontoura
Sobre o autor

Marcus Fontoura

Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.