O papel do líder de tecnologia é enxergar, comunicar e implementar o mecanismo que facilite uma mudança de cultura, angariando pelo caminho a colaboração dos funcionários ao mostrar que existem incentivos maiores lá na frente para a transição do presente. Isso envolve trabalho com a equipe, mas também com o resto da empresa, que precisa começar a enxergar a tecnologia como uma área parceira e fundamental para a transformar e escalar o negócio.

Tome-se por exemplo o caso de uma companhia como a Microsoft. A empresa , que nasceu em 1975, antes da propagação da internet, remonta a uma época em que se vendia software em caixas fechadas e não havia conceito de serviços ou de computação em nuvem. Ainda assim segue relevante, porque está permanentemente se reinventando. 

A sacada do CEO Satya Nadella foi entender que permanecer naquele modelo antigo, em que cada parte da empresa tocava seu próprio projeto como se fosse um negócio independente e até competindo com outros departamentos, não dava mais certo. Nadella percebeu, mesmo antes de assumir a chefia da empresa, que era preciso gerar sinergias para manter o protagonismo em uma nova visão de mundo em que tudo é conectado. 

Ele se dedicou por anos a mudar as estruturas internas da companhia, apontando para as equipes o que tinham que fazer em comum, como apostar na nuvem ou adotar determinada plataforma, encorajando as pessoas a conversar. Isso levou as lideranças a um diálogo que não existia antes e gerou sinergias e experiências inéditas entre todos. No livro Aperte o F5 (Benvirá, 2018), Nadella conta em detalhes sobre como se deu essa transformação cultural da Microsoft. Contudo, cada organização apresenta seus próprios desafios. 

No contexto da tecnologia intencional, mudar a cultura envolve, entre outros aspectos:

Tudo isso impacta a cultura organizacional, e manter essa cultura é um exercício diário. O próprio Satya Nadella diz que, no dia em que se declara que a transformação cultural de uma companhia acabou, ela recomeça, porque a empresa e a organização de tecnologia são organismos vivos, que requerem cuidado constante.

Marcus Fontoura
Sobre o autor

Marcus Fontoura

Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.