As pessoas-chave de uma organização servem de chamariz para as aspirações profissionais de todos os outros colaboradores e funcionam como grandes bandeiras, não só para a retenção de quem já está lá como na atração de novos contratados. 

Quando não há uma figura de destaque no braço de contribuidores individuais de uma empresa de tecnologia, é possível que haja menos procura por essa trilha de carreira e a qualidade técnica da organização pode sofrer.

Pessoas que são colocadas em evidência atribuem certa identidade à empresa, e é responsabilidade dos gestores lhes dar essa visibilidade. Os cargos administrativos mais altos têm destaque por natureza, mas são escassos: só há por exemplo lugar para um chief technology officer (CTO). O topo da pirâmide é estreito. Se todo mundo quiser ser um gestor porque somente essas pessoas é que inspiram, vai haver uma limitação no talento. 

É por isso que se torna importante ter profissionais admirados que pertençam ao braço técnico da carreira em Y. Alguns exemplos do que se pode fazer para patrocinar e aumentar a visibilidade de contribuidores individuais são:

  • Incluir uma apresentação do trabalho de uma delas na reunião mensal da companhia
  • Falar sobre seus projetos nos comunicados para a equipe

Em computação existem muitas maneiras de contribuir, porque os papéis em uma companhia são variados: talvez a pessoa tenha a característica de ser muito organizada, ou tenha o dom de dar direcionamento ao time, ou então que seja ótima em um tipo de algoritmo específico, como sistemas de aprendizado de máquina. Há aquelas que conseguem ter uma visão panorâmica da área para conseguir determinar e ditar a arquitetura, distribuindo as bolas no meio-de-campo.

Inspirações plurais

Promover a pluralidade das pessoas-chave dentro da empresa também colabora para que as pessoas se identifiquem com aquelas de perfil mais semelhantes aos seus, ou para que elas se enxerguem como uma combinação de atributos. Quando se mapeia claramente como um funcionário pode contribuir melhor, ele tende a se sentir mais efetivo no trabalho, o que acaba se multiplicando como influência positiva para a equipe como um todo. É uma situação de ganha-ganha.

Organizar esse tipo de ambiente construtivo, com diretrizes, expectativas, incentivos e canais de comunicação claros, é o que fazem os melhores gestores. As estrelas de uma companhia de tecnologia não são só os magos do código e os contribuidores individuais com seus projetos especiais, mas também gerentes e diretores que tocam o dia a dia de suas equipes com maestria.

Marcus Fontoura
Sobre o autor

Marcus Fontoura

Marcus Fontoura é atualmente technical fellow na Microsoft e CTO do Azure Core. Iniciou a carreira na área de pesquisa da IBM em 2000, depois de concluir o doutorado na PUC-Rio e o pós-doutorado na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Teve passagens pelo Yahoo! e pelo Google, e promoveu uma transformação digital na fintech brasileira StoneCo, onde atuou como CTO. É autor do livro Tecnologia Intencional e publisher da plataforma com o mesmo nome.